O primeiro dia teve público razoável, uma média de 150 pessoas. A banda que abriu a noite foi a Velocetts, de Farroupilha, que havia vencido o mini-festival Contramão. Como cheguei atrasado, perdi os dois primeiros shows, mas já conheço o som deles. A banda apresenta um rock básico, politicamente correto e com vocal feminino. Pegada suave e sonoridade dançante. Capricha nas fotos e arte gráfica e mete a cara em vários festivais e concursos que pintam por aí. São espertos e estão atentos aos movimentos que estão rolando. Um single está pra sair, produzido por Ray-Z.
Logo em seguida foi a vez dos Gulivers, de Porto Alegre. A banda faz um britrock anos 90 com pitadas da nova cena Novaiorquina. O timbre e as linhas melódicas do vocal lembram Oasis. Além da estética caprichada, o EP dos caras foi muito bem gravado. O CD oficial será lançado em março de 2010. Gulivers é uma das bandas emergentes da cena underground gaúcha.
Os terceiros que subiram no palco foram os pelotenses da Canastra Suja. A banda surgiu como uma proposta blues, mas logo se rendeu ao rock’n roll. No Festival eles apresentaram um rock tradicional, consistente, seguro e sem inovações. O mais bacana é que enquanto tocavam, um cara passou distribuindo para o público o CD deles, que é assim: uma sacolinha de pano verde, e dentro um papelão com a impressão de um vinil escrito “isto não é um disco, mas pode ser. Canastra Suja ao vivo, disponível em www.canastrasuja.com.br”.
A quarta banda veio de Chapecó, Santa Catarina. Os Variantes são um power trio. Tocam rock’n roll com atitude, pegada rápida, sem dar tempo para o público pensar. O show é direto, uma música atrás da outra, todas vibrantes, enérgicas, “pra frente”. A pulsação é 2/4, com muita influência do country rock. O vocalista toca contra-baixo, tem um timbre agudo e levemente rasgado. O guitarrista usa uma Gibson SG, com três captadores duplos, deixando o som gordinho e bem preenchido. Usa capotraste para não perder a dinâmica dos riffs, que são característicos do country e do blues, baseados na escala pentatônica. O baterista tem boa pegada e muita energia.
Aqui vale uma observação. O público é muito chato e não havia correspondido às bandas até então. Apenas aplausos tímidos ao final de cada canção. A platéia estava desconectada do palco e não se esforçava nem um pouco para dar força e motivação para as bandas que vieram de fora. Enfim…
No quinto show foi a vez da Zava, de Caxias do Sul. Os guris já têm um grupo fiel de seguidores. E quando eles foram anunciados, cerca de 40 pessoas se posicionaram bem na frente do palco e começaram a fazer a festa. Logo em seguida os músicos pegaram os instrumentos e mostraram sua boa performance. Composições bem construídas, letras inteligentes e uma energia explosiva fizeram com que o público despertasse da sua apatia. A Zava é a principal banda em efervescência de Caxias. O CD que será lançado no dia 11 de dezembro apresenta a maturidade e o investimento de tempo e dinheiro dos guris. No show do festival, apesar da boa resposta do público, as guitarras estavam com volume baixíssimo, tirando muito da vibração sonora que a banda propõe e prejudicando a apresentação.
Em seguida veio a Identidade, de Porto Alegre. O público continuou agitando, cantando as músicas e se divertindo. A banda lançou o terceiro CD há uns três meses e a repercussão já é enorme. O vocalista Evandro Bitt tem influência pesada de Mick Jagger, rebola, faz beiço, dança o tempo todo e se mexe freneticamente. O clipe da música “Não Para de Dançar” já está rodando na MTV!
A Superguidis, última banda da primeira noite, encara a música como arte. “Somos retardados, quando a gente tenta parecer rock stars não dá certo”, conta o guitarrista Lucas Pocamacha. O vocalista Andrio Maquenzi diz que o terceiro CD está mais soturno que os anteriores. Os Superguidis fizeram o melhor show do festival, disparado. Subiram no palco, acertaram os volumes das guitarras (finalmente!), e fizeram um show intenso, preciso, forte, profundo. O som estava redondo e apesar de já serem cinco horas da madrugada, o pessoal cantou junto e ficou até o final. O quarteto já conquistou um nome de respeito em diversos estados do Brasil. Um trabalho maduro e original, que impressiona quem ouve. Com atitude humilde os caras vieram pra Caxias, fizeram um baita show e prometeram voltar em março de 2010 para lançarem o seu terceiro disco.
No segundo dia a casa estava quase lotada, média de 300 pessoas no bar. A noite começou com os caxienses da Revólver. Pulsação 4/4, som reto e direto. Podemos dizer que foi a banda mais masculina do festival. Rock tradicional, clássico, dos anos 70, guitarras secas e pontuais, pegada forte na bateria e contra-baixo com marcação definitiva. Solos de guitarra em todas as músicas, vocal rasgado e gritado. Show curto e grosso para ninguém esquecer de onde vem o verdadeiro rock’n roll.
Na seqüência tocou a Lítera, de Porto Alegre. Única banda com referências de MPB. No show, os instrumentos pareciam desencontrados. Bateria muito agressiva para o pouco peso das guitarras, apesar das inteligentes frases de condução no prato china. Os caras acabaram de lançar um CD criativo em composições e arranjos. Arte gráfica impecável. O disco está repercutindo muito bem no estado e conquistou boas críticas.
Depois foi a vez da Bob ShuT, de Caxias. Outro trio em que o baixista também é vocalista. Foi a banda com o som mais pop rock do festival. Timbre de voz bonito e afinado, característico dos consagrados grupos do rock nacional. Bateria e guitarras simples, que não comprometem e mantém a energia do show. O público conhecia as letras e os caras tiveram um ótimo retorno tocando só músicas próprias. É difícil quando uma banda consegue dar o salto de tornar um show autoral sustentável, sem a necessidade dos covers. Em Caxias isso ainda é raríssimo e a Bob ShuT está praticamente lá.
Depois vieram os Cartolas. Uma das principais bandas da atualidade no estado. O público vibrou muito com o show dos caras, cantaram praticamente todas as músicas. Infelizmente a técnica não ajudou em nada. Microfonia, e novamente o péssimo volume das guitarras fez com que o guitarrista André Silveira parasse no intervalo de uma das músicas e exigisse a correção do som. Algumas pessoas da platéia acharam a atitude arrogante, mas para quem prioriza a música, a boa qualidade do som é fundamental. Problemas técnicos tiram a energia e motivação da banda e prejudicam o show imensamente. Mesmo assim, os caras continuaram o baile e o público adorou. Os Cartolas fazem música de altíssimo nível, rock de primeira, com qualidade e maturidade de composição para concorrer internacionalmente. Um dos principais representantes do Rio Grande do Sul.
Finalizarei a crítica com Cartolas, pois foi o último show que acompanhei. Ligante Anfetamínico, Replicantes e Los Vatos ficam pra próxima. Os proprietários do Vagão Bar, César Casara e Marcelo Pedroso, tiveram uma atitude de vanguarda ao promoverem o festival e iniciarem esse movimento de inclusão de Caxias do Sul no mapa da cena independente. O camarim do bar foi elogiado por várias bandas, pois conta com o diferencial de um estúdio, onde os músicos podem tocar e se aquecer antes do show, além de ser um espaço ideal para entrevistas. Outros dois pontos que merecem elogio são a seleção das bandas participantes e a velocidade da troca de uma banda pra outra entre os shows. Para a próxima edição fica a sugestão de um cuidado redobrado com a técnica de som, para não comprometer a qualidade musical do festival, que obviamente é a prioridade do evento.
Por: Dinni.
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